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Brasileiras têm dificuldades para fazer mamografia na rede pública de saúde

13 de fevereiro de 2017

Às vezes nem é por falta de equipamento, muitos estão quebrados. Mas também faltam técnicos e médicos para fazer o exame. O Brasil perde feio na prevenção de doenças como o câncer de mama. A mamografia, que é capaz de diagnosticar a doença logo no início, é um exame de difícil acesso na rede pública. E às vezes nem é por falta de equipamento, muitos estão quebrados.

E a capital federal é o pior lugar do país para fazer o exame. O número é chocante. Apenas 1,7% das mulheres entre 50 e 69 anos em Brasília conseguiram fazer mamografia pelo Sistema Único de Saúde em 2015. E o problema não é só mamógrafo quebrado. Em alguns hospitais, tem o aparelho, mas faltam técnicos e médicos para o exame. Mamografia. Era para ser um direito, mas é pura frustração.

Bom Dia Brasil: Quantas mamografias você deixou de fazer na rede pública por falta, por dificuldade?

Creuza Ramos, aposentada: Três, na rede pública foram três. Eu tentei entrar na fila, só que a servidora do posto disse: ‘Faça particular porque nós não temos nem previsão de quando vamos estar chamando’. Eu falei: ‘Então deixa meu nome aí, pelo menos’. Ela falou: ‘Tudo bem, vou colocar, mas não tem previsão’. E, realmente, nunca chamaram.

E as “Creuzas” se multiplicam. Sabe quantas mulheres fizeram o exame no SUS do Distrito Federal? Menos de 2%. Isso na faixa dos 50 aos 69 anos de idade. E foi lá a menor taxa de todo o país. Mamógrafos têm, mas ou não funcionam ou faltam profissionais. E no Amapá? Adivinha…

“Não está fazendo porque o mamógrafo está quebrado, está com problema. Eu fiquei desesperada porque a gente não espera um negócio desse, né?”, queixou-se a diarista Francisca Silva.

E já se vão sete meses de espera. E lá, também, está tipo loteria. Mamografia só para 3,7% das mulheres. É a segunda pior cobertura do país. O Acre vem em terceiro lugar, 6% das mulheres usaram os mamógrafos. Onde a produtora rural Eliuda Gomes mora, a 115 quilômetros da capital, nem tem. E aí ela foi deixando, deixando, até que pegou a estrada.

“Muito longe, não tinha dinheiro para vir, muito longe, mesmo, aí tinha questão de hospedaria aqui em Rio Branco, né, precisava de dinheiro para pagar, muito difícil, né”, disse a produtora rural.

Olhando o país todo, o estado que atendeu mais foi Minas Gerais. É o melhor. Agora, imagine, de cada 100 mulheres, só 35 saíram com uma mamografia na mão. Ou seja, 35%, sendo que a Organização Mundial da Saúde recomenda que seja pelo menos de 70%.

A média do Brasil fechou 2015 com 24,4%. E quanto menos investimento nas mamografias, mais mortes. É um fato isso.

“O objetivo é pegar tumores pequenos, que ainda não são palpáveis. Então, quando você pega um tumor menor, você pode fazer um tratamento menos mutilante e você aumenta a possiblidade de cura”, explicou a mastologista Fernanda Salum, da Sociedade Brasileira de Mastologia.

Para a Sociedade Brasileira de Mastologia, que fez o levantamento, o Brasil está muito, mas muito atrás do mundo.

“Em outros países os programas de rastreamento, eles são programas até separados dos exames de diagnóstico. As mulheres, elas são convocadas para fazer a mamografia, quando existe um rastreamento organizado. E no Brasil não tem nada disso. Um estado, ele não tem o mínimo controle sobre quem está fazendo o exame, sobre quem não fez, entendeu? Então, assim, dessa forma, realmente, fica difícil o benefício”, acrescentou a médica Fernanda Salum.

A Secretaria de Saúde do Distrito Federal informou que a rede pública tem 12 mamógrafos, que 9 estão em funcionamento e que cinco mil mulheres estão na fila.

O governo do Acre informou que tem mamógrafos suficientes, mas que a dificuldade maior é conscientizar as mulheres, principalmente as que moram no interior.

A coordenadora de Doenças Crônicas do Amapá disse que o equipamento vai passar por manutenção ainda neste semestre. Enquanto isso, o estado fechou um convênio com um hospital particular para atender os pacientes do SUS.

E o Ministério da Saúde disse que o número de mamografias cresceu de 2010 para 2016. Nessa faixa etária no estudo, de 50 a 69 anos, disse que passou de 854 mil para 2,2 milhões. Mas não informou quanto por cento da população foi atendida.

 

Assista a reportagem do Bom Dia Brasil

 

Fonte: Bom Dia Brasil, 13/02/2017

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